UM PALIDO PONTO AZUL
Em 1990 a Sonda Espacial Voyager 1 tirou uma das fotos mais importantes da história.
A 6 bilhões de quilômetros de distância da Terra, a imagem mostra nossa pequenez e quanto o nosso planeta é insignificante frente a imensidão do cosmos.
Olhando a partir deste ponto de vista distante, a Terra pode parecer não ter nenhum interesse em particular, mas para nós é diferente.
“É aqui. É a nossa casa. Somos nós.”
— Carl Sagan
Quando a sonda Voyager 1 estava a 6 bilhões de km da Terra, Carl Sagan fez um pedido. Ele pediu à NASA que desse meia-volta para tirar uma fotografia rápida. O resultado foi uma imagem tênue da Terra cercada pela vastidão do espaço. O falecido astrônomo usaria então esta imagem para compartilhar suas próprias reflexões sobre o que significava e por que era importante para nós capturá-la:
Carl Sagan fez uma reflexão, um dos melhores textos já escritos na história: o pálido ponto azul
No dia de São Valentim em 14 de fevereiro de 1990. A pedido de Carl Sagan, os técnicos da Voyager 1 fazem a sonda “olhar para trás” e fotografar o planeta de onde partiu.
E a mais de 6 bilhões de quilômetros de casa ela revela apenas um pálido ponto azul (Pale Blue Dot, em inglês), numa icônica foto que agora em fevereiro de 2024 estará completando 34 anos.
O pontinho azul sobre o facho de luz é a Terra vista da órbita de Saturno. Esta versão atualizada utiliza técnicas modernas de processamento de imagem para revisitar a famosa foto.
Trata-se de uma imagem singela, nada especial, mas que pode nos fazer refletir profundamente sobre o nosso lugar no Cosmos - e o lugar do Cosmos em nós. Astronomia no Zênite não teria como celebrar melhor este aniversário senão relembrando o próprio texto que Sagan escreveu sobre essa fotografia.
A espaçonave estava bem longe. Eu pensei que seria uma boa ideia, logo depois de Saturno, fazer ela dar uma ultima olhada em direção de casa.
De Saturno, a Terra pareceria muito pequena para a Voyager apanhar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um “pixel” solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria: planetas vizinhos, sóis distantes. Mas justamente por causa dessa imprecisão de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter tal fotografia.
Já havia sido bem entendido por cientistas e filósofos da Antiguidade Clássica, que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto Cosmos circundante, mas ninguém jamais a tinha visto assim. Aqui, estava nossa primeira chance, e talvez a nossa última nas próximas décadas. Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas e um fundo pontilhado de estrelas distantes.
Por causa do reflexo da luz do Sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de Sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo, mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos. Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidencia.
Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.
Considere novamente esse ponto:
"Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas.
O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada “superestrela”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali – em um grão de pó suspenso num raio de sol.
"A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto.
Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas posturas, a nossa suposta auto importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida.
O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo.
Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o “pálido ponto azul”, o único lar que conhecemos até hoje.”
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